sexta-feira, 27 de março de 2009

Faltam só 94 anos e 131 dias

Na canção "Indignação" dos mineiros do Skank, há um verso que diz: "A nossa indignação é uma mosca sem asas/Não ultrapassa a janela de nossas casas". Assim, perplexo, porém nem tão surpreso assim, me deparei com a notícia do habeas corpus concedido à prisioneira mais chique da Paulicéia. Chique e vigarista.

Será que deu tempo de pegar "a bóia no xadrez"?

Dona de um patrimônio incalculável às custas de sonegação fiscal, formação de quadrilha, contrabando e falsificação de documentos, a distinta senhora Eliana "sangue azul" Tranchesi, dona da suntuosa Daslu, já passeia livremente pelas avenidas de São Paulo num luxuoso importado, certamente. Isto porque, pasmem, estava condenada a simplórios 94 anos e meio de prisão, que sua advogada, brilhantemente, tentou - e conseguiu - sensibilizar com um: "ai, ela não vai aguentar...ela tem câncer..."

E a gente aqui, vendo tudo isso, pegando ônibus lotado, acordando cedo todos os dias e enfrentando nosso avião do trabalhador...correndo na subida como costumo dizer. E a nossa indignação vai passar com o próximo escândalo, claro. Porque uma "mosca sem asas" não voa. Jamais vai zunir em alguma ouvidoria e se conseguir, será esquecida na pausa para o cafezinho.

E a gente aqui, levando a vida como um monte de imbecis a honrar a nossa pátria, a buscar nosso lugar ao sol honestamente. Eu comentei com um amigo, ao saber da prisão, com certo desdém, admito: vamos ver quantos dias... Batata. Aí está a moça, saltitante nos seus chanéis, cheia de brilhantes e com a conta bancária transbordando.

Enquanto deixo de dormir pra escrever este texto ela deve ter aberto mais uma Chandon com sua quadrilha. E já deve ter começado a traçar novos planos para novas transações internacionais. Ilegais, evidentemente. Imposto? Ah, deixa que o Zé da Padaria paga certinho.

Tudo assim, muito simples, pronta para enfrentar a alfândega, Polícia Federal e quem quiser peitar. Quem sou eu mesmo? Quanto eu tenho? Ah...então você trate de assinar esse habeas corpus imediatamente, seu juizinho de m...!!!

Até quando, hein Pizzaria Brasil?

Indigna nação.

foto extraída do site Terra: J.F. Diório / Agência Estado

quarta-feira, 11 de março de 2009

Marionete fenomenal


Fiz questão de reproduzi-lo na íntegra, sem link, para não correr o risco de você, caro leitor, desistir de conferir um texto sensato e coerente sobre o "fenômeno" de marketing que a mídia usa e abusa sabendo que vai jogar fora daqui a pouco. Talvez por inocência, o ex-jogador Ronaldo se deixa levar pelo clima de "oba oba". Pra inglês e corintiano ver. Porque quem está de fora e com os pés no chão sabe bem que essa euforia tem prazo de validade.


Extraí este texto do periódico gratuito, Destak, e além de parabenizar o escritor Marcelo Mirisola pelo "tiro na mosca", tomo a liberdade de publicá-lo em meu blog.



Fenômeno é o escambau


Queria falar de um Ronaldinho acima do peso, e mais humano


Marcelo Mirisola


Para que time eu torço? Vou repetir pela centésima vez a mesma ladainha. Torço para o futebol acabar. E já que minha torcida não vai surtir efeito algum, gostaria de me corrigir com relação a Ronaldinho. Não o jogador de futebol, mas o cara que ultimamente passou a levantar a cabeça, dar petelecos nos companheiros do banco de reservas e a fazer piadas nas entrevistas. Queria falar de um Ronaldinho acima do peso, e mais humano.


Uma das coisas que mais me incomodavam no antigo "fenômeno" era o fato de ele falar aos muxoxos, olhando para baixo em vez de encarar frente a frente as câmeras e a babação de ovos dos repórteres fofoqueiros. Desde 94 quando - ainda na reserva - ganhou a Copa mais feia da história, passando pela construção do mito e pelas cirurgias até o episódio dos travecos, sempre foi assim. Eu pensava comigo mesmo: como é que um cara que olha para baixo, resmunga lugares-comuns, batiza o filho com o nome de Ronald e casa num Castelo com uma Cicarelli da vida pode prestar para alguma coisa? Não me diz nada.


Esse papo de garra, vontade e determinação pode servir ao ufanismo do Galvão Bueno, a mim não me diz absolutamente nada. O esporte em geral não tem argumentos que me convençam. Já achava uma insensatez a corrida de São Silvestre noturna. Debaixo do sol, então, é burrice mesmo. Qualquer fusca modelo 81 faz o mesmo percurso com muito mais rapidez, conforto e civilidade - se o trânsito ajudar. Por isso que repudiava o futebol que Ronaldinho jogava, por mais espetacular e fenomenal que fosse. Esse futebol seguia a mesma lógica do Big Brother, a mesma receita da revista Caras: ou seja, transformava gente medíocre em celebridade. E o pior: celebridades que influenciam milhares de pessoas. Quantas pessoas frequentam a igreja da Bispa $onia por causa do Kaká? Meus parâmetros sempre foram os "bandidos do futebol". Aqueles que meu amigo Bortolotto queria ver na seleção: Chulapa, Casão, Sócrates, Paulo César Caju, Romário. Mas eu falava do Ronaldinho. Ele voltou não porque foi disciplinado e seguiu a receitinha do Galvão Bueno, ele não voltou da sessão de fisioterapia, nem de uma igreja obscura, Ronaldinho está em grande forma, quebrando alambrados e fazendo gol no último minuto do segundo tempo, porque voltou da esbórnia. Ele está em grande forma porque está gordo, ele é macho pacas porque encara três travecos de uma só vez, ele tem dois filhos porque não teve nenhum com a Cicarelli, e pra mim - mesmo que a sorte não o favoreça nos últimos minutos do 2º tempo - está bom demais. Só está faltando mandar o Galvão Bueno pro inferno. Se isso acontecer, da próxima vez em que me perguntarem pra que time eu torço, eu vou dizer que troquei o Palmeiras pelo Corinthians.

segunda-feira, 2 de março de 2009

A praga do "eletrizante"

Como um vendaval de gafanhotos no milharal, há cerca de dois ou três anos, numa transmissão da Band, detectei o primeiro - que eu me lembre - "eletrizante". Nas palavras de Éder Luiz, competentíssimo radialista dando seus primeiros vôos na TV, digamos que surgira o primeiro gafanhoto. Peguei repulsa da palavra já neste dia, de tanto que ele usou. Tenho pavor de certas construções, clichês e outras formas gramaticais que viram moda.

O jogo mal começa e era um dos times apresentar um contra-ataque para que Éder berrasse: EEEEEELETRIZAAAAAANTE!!! Terrível. Numa partida, ele usava cerca de 15 vezes o maldito adjetivo. Acho que alguém tratou de avisá-lo e ultimamente ele tem evitado. Mas como um vírus, na esteira de Éder vieram Luiz Roberto - esse gosta demais da palavra! - e Cléber Machado (Rede Globo), e o comentarista e ex-jogador Neto. Outro dia, não me lembro o jogo, Cléber Machado cometeu a heresia de utilizá-la três vezes dentro de uma só frase. Caio Ribeiro, comentarista badalado na emissora - visto a quantidade de jogos que habilmente tem comentado - , apenas concordou.

Mas não é só no rádio ou TV que isso acontece. Na semana passada, no jogo em que o Palmeiras virou o placar pra cima do São Caetano por 4 a 3, eis que os impressos foram tomados pela praga. Até os gratuitos parecem ter descoberto o fenômeno. Destak e Metro trouxeram a palavra logo nas primeiras linhas. "Num jogo eletrizante o Palmeiras venceu..." dizia um. "A partida entre Palmeiras e São Caetano começou eletrizante..." dizia outro. Pareciam ter sido escritos pelo mesmo repórter. Texto finalizado e vou buscar uma foto pra ilustrar. Digito "eletrizante" e o que encontro?Outro texto sobre o mesmo Palmeiras X Azulão, no site G1, que já começa eletrizante pelo título, passeia pelo intertítulo e segue faceiro, dentro do texto.


Confira no link:


Falta de criatividade? Ou qualquer jogo mais movimentado e com muitos gols só consegue ser definido por nefasto adjetivo?

Acordem, jornalistas!!!