quarta-feira, 11 de março de 2009

Marionete fenomenal


Fiz questão de reproduzi-lo na íntegra, sem link, para não correr o risco de você, caro leitor, desistir de conferir um texto sensato e coerente sobre o "fenômeno" de marketing que a mídia usa e abusa sabendo que vai jogar fora daqui a pouco. Talvez por inocência, o ex-jogador Ronaldo se deixa levar pelo clima de "oba oba". Pra inglês e corintiano ver. Porque quem está de fora e com os pés no chão sabe bem que essa euforia tem prazo de validade.


Extraí este texto do periódico gratuito, Destak, e além de parabenizar o escritor Marcelo Mirisola pelo "tiro na mosca", tomo a liberdade de publicá-lo em meu blog.



Fenômeno é o escambau


Queria falar de um Ronaldinho acima do peso, e mais humano


Marcelo Mirisola


Para que time eu torço? Vou repetir pela centésima vez a mesma ladainha. Torço para o futebol acabar. E já que minha torcida não vai surtir efeito algum, gostaria de me corrigir com relação a Ronaldinho. Não o jogador de futebol, mas o cara que ultimamente passou a levantar a cabeça, dar petelecos nos companheiros do banco de reservas e a fazer piadas nas entrevistas. Queria falar de um Ronaldinho acima do peso, e mais humano.


Uma das coisas que mais me incomodavam no antigo "fenômeno" era o fato de ele falar aos muxoxos, olhando para baixo em vez de encarar frente a frente as câmeras e a babação de ovos dos repórteres fofoqueiros. Desde 94 quando - ainda na reserva - ganhou a Copa mais feia da história, passando pela construção do mito e pelas cirurgias até o episódio dos travecos, sempre foi assim. Eu pensava comigo mesmo: como é que um cara que olha para baixo, resmunga lugares-comuns, batiza o filho com o nome de Ronald e casa num Castelo com uma Cicarelli da vida pode prestar para alguma coisa? Não me diz nada.


Esse papo de garra, vontade e determinação pode servir ao ufanismo do Galvão Bueno, a mim não me diz absolutamente nada. O esporte em geral não tem argumentos que me convençam. Já achava uma insensatez a corrida de São Silvestre noturna. Debaixo do sol, então, é burrice mesmo. Qualquer fusca modelo 81 faz o mesmo percurso com muito mais rapidez, conforto e civilidade - se o trânsito ajudar. Por isso que repudiava o futebol que Ronaldinho jogava, por mais espetacular e fenomenal que fosse. Esse futebol seguia a mesma lógica do Big Brother, a mesma receita da revista Caras: ou seja, transformava gente medíocre em celebridade. E o pior: celebridades que influenciam milhares de pessoas. Quantas pessoas frequentam a igreja da Bispa $onia por causa do Kaká? Meus parâmetros sempre foram os "bandidos do futebol". Aqueles que meu amigo Bortolotto queria ver na seleção: Chulapa, Casão, Sócrates, Paulo César Caju, Romário. Mas eu falava do Ronaldinho. Ele voltou não porque foi disciplinado e seguiu a receitinha do Galvão Bueno, ele não voltou da sessão de fisioterapia, nem de uma igreja obscura, Ronaldinho está em grande forma, quebrando alambrados e fazendo gol no último minuto do segundo tempo, porque voltou da esbórnia. Ele está em grande forma porque está gordo, ele é macho pacas porque encara três travecos de uma só vez, ele tem dois filhos porque não teve nenhum com a Cicarelli, e pra mim - mesmo que a sorte não o favoreça nos últimos minutos do 2º tempo - está bom demais. Só está faltando mandar o Galvão Bueno pro inferno. Se isso acontecer, da próxima vez em que me perguntarem pra que time eu torço, eu vou dizer que troquei o Palmeiras pelo Corinthians.