IP - Encontrei seu blog, Socialismo e Palmeiras, e aproveitando o gancho do nome, você acredita na viabilidade de implantação do sistema socialista no Brasil mesmo na atual conjuntura, do capitalismo consolidado? Por quê?
Alex Buzeli - Primeiro gostaria de deixar claro que o socialismo em meu modo de ver não é o socialismo que existiu na União Soviética, China, Cuba, etc. Socialismo pressupõe participação popular democrática nas decisões econômicas, políticas, culturais, da sociedade. Socialismo é o regime de participação política democrática mais avançada. Não é a ditadura de um homem ou de um Partido.
A viabilidade da existência do socialismo deve ser vista através de duas perspectivas. A primeira é da viabilidade estrutural, se assim podemos chamar. Ou seja, existem as bases econômicas suficientes para que o socialismo se desenvolva no Brasil, há a possibilidade de desenvolvimento tecnológico, cultural e social que possa ser a base do socialismo? Entendo que deste ponto de vista existem as condições para a existência do socialismo no Brasil.
Outra questão é que o socialismo pressupõe participação política constante de amplos setores da sociedade, essa participação não existe hoje no Brasil, os grupos organizados são poucos e os que existem entram no próprio sistema e não conseguem mudar a sua dinâmica. Os raros grupos que realizam uma crítica acertada ao sistema e desenvolvem algum tipo de ação política que possa gerar frutos do ponto de vista da construção de uma sociedade socialista, são pequenos e hoje não conseguem interferir significativamente na sociedade. Isso quer dizer que, como disse Fukuyama é o fim da história, o capitalismo venceu. Longe disso, isso quer dizer que neste momento histórico, específico e que não é estático, ou seja, nem sempre foi assim e nem sempre continuará assim, o socialismo é mais uma aspiração que uma alternativa concreta a curto prazo. Mas a história muda, e os elementos que criaram o ideário socialista permanecem, todos os problemas do capitalismo, econômicos (como as crises cíclicas que acontecem aproximadamente a cada 5 ou 6 anos), sociais, como a desigualdade gritante, ambientais, éticos, como o massacre do continente africano utilizado como um imenso laboratório explorado pelas empresas capitalistas, permanecem.
Mas as condições devem existir, pra que seja possível a construção do socialismo. Vejo a grande mídia demonizar o Chaves no Brasil, o que, diga-se de passagem, não acontece entre as populações de outros países latino-americanos, mas em termos de democracia houve um grande avanço na Venezuela, as pessoas que antes ignoravam hoje conhecem a constituição, debatem política, houve uma imensa melhora no sistema de ensino, livros são distribuídos gratuitamente e lidos por boa parte das pessoas, os plebiscitos e eleições acontecem quase que anualmente, a população é estimulada a formar grupos, se organizar e agir coletivamente, ao contrário do que ocorre aqui onde quem se organiza e vai a luta é reprimido, etc. Mas lá há um problema, a base econômica do país é muito fraca. Existe a indústria do petróleo, um pouco de construção civil e mais nada praticamente, nem mesmos aquelas indústrias mais básicas de bens de consumo ou alguma produção agrícola em maior escala, os caras importam até alimento. Sem essa base, não há construção do socialismo possível, e a personificação do poder, mesmo que haja estímulo a participação popular, se torna inevitável.
IP- Voltando a falar de Palmeiras, li o post em que você sugere mudanças estatutárias no clube. Você participa do Conselho palmeirense? É sócio-torcedor?
IP- O que achou das medidas tomadas pelo presidente em exercício, Salvador Hugo Palaia? Ele acertou em dissolver a atual diretoria?
Alex Buzeli - O Palaia é a encarnação do modelo patrimonialista de poder no Palmeiras. Qualquer pessoa de bom senso, na conturbada política palmeirense, buscaria construir o mínimo de consenso entre os trocentos grupos políticos da situação para tomar a atitude que ele tomou, jogar a responsabilidade para o coletivo, uma vez que a maior parte das pessoas queria a saída do Cippullo, mas ele, como considera o clube seu patrimônio assim como sua imobiliária, resolveu demitir a diretoria como faria com um office-boy do seu escritório. Se o time vai melhorar eu não sei, mas que as mudanças necessárias para democratizar e modernizar o Palmeiras não ocorrerão com o Palaia isso eu posso afirmar.
Palmeiras: O que torna essa religião mais próxima, mais humana.
Ídolo palestrino: Evair, apesar de admirar muito o caráter do Marcos, o Evair marcou por causa que foi o ídolo do primeiro título que vi.
Título inesquecível: Paulista de 93
Maior rival: Corinthians
Sua ida mais emocionante ao estádio (jogo e placar): Palmeiras 1 x 0 Botafogo ( se não me engano) gol do Cuca.
Torcida organizada: Se organizam para quê?
*Foto: Diego Viñas